A penitência de Maria Madalena
Guido Reni (1635)
Guido Reni (1635)
A FEMINILIDADE SAGRADA
OU APOSTOLA
APOSTOLORUM
Introdução
Maria Magdalena, ou Mariam de Magdala, tem hoje uma imagem deformada em relação ao que ela realmente foi na época dos primeiros cristãos. Veremos até que ponto foi marginalizada.
Relataremos um pouco da sua vida e dos diferentes julgamentos que foram feitos a respeito dela. Saber e compreender o porquê da marginalização de Maria Madalena é um dever em virtude da nossa condição de gnósticos.
O objetivo deste relato é poder trazer um pouco de luz sobre sua imagem com a ajuda de algumas referências de grandes especialistas que sustentam estas teses.
Para mim é indispensável dar algumas destas informações e também dar a conhecer exatamente o posicionamento gnóstico sobre o que emito. Assim, li o texto para Oscar Uzcategui, meu marido, para saber a sua opinião. Faço isso sem pretensão alguma. Só quero compartilhar um pouco parte de nossas conversas, as seguintes perguntas e respostas que concernem, nesta ocasião, a Maria Madalena.
Apenas mencionaremos o papel da mulher na época dos primeiros cristãos. Este tema é muito interessante, mas é demasiado amplo e particular. Durante este mesmo período houve muitas mulheres excepcionais, heroínas, guerreiras, profetas, como, por exemplo: Esther, Ruth, Deborah, Huldah, Rahab, etc. E o que podemos dizer de Junias, mulher do Apóstolo Paulo, que se cristificou antes dele! Não. O objetivo é muito mais fácil ou simples.
Falaremos da maior, de Maria Madalena, deste modelo de mulher, deste exemplo para todos nós, homens e mulheres. E como ela diz muito bem: «… esquecei do sexo masculino e feminino. Do que estamos falando todos é de tornar-se verdadeiramente HUMANO».
Espero que depois desta leitura sejamos capazes da conhecer melhor e, sobretudo, entender, entre outras coisas, que nunca foi uma prostituta…
UM POUCO DE HISTÓRIA
a Lenda Dourada, que relata a vida de muitos Santos e também a de Maria Madalena, é uma das obras fundamentais da Idade Média. Traduzida para várias línguas, é a obra mais lida e mais editada de sua época. Foi escrita por Jacobo da Vorágine, monge italiano da ordem dos dominicanos, entre 1259 e 1266. Nela se fala de Maria como uma pecadora, mas não como uma prostituta.Eis aqui um extrato:
Maria, com o sobrenome de Madalena, do castelo de Magdalo, nasceu de pais ilustres, posto que descendiam do status real. Seu pai se chamava Syrus e sua mãe Eucharia.
Maria tinha em comum com Lázaro, seu irmão, e Marta, sua irmã, o castelo situado a duas milhas de Generaste, Betânia, e uma grande parte de Jerusalém.
Marta provia todo o necessário aos soldados, aos seus serventes e aos pobres. No entanto, Maria Madalena, Lázaro e Marta venderam todos os seus bens depois da ascensão de Jesus Cristo e levaram o dote aos apóstolos».
P.: Oscar, o que a Gnose diz sobre Marta e Lázaro? Eram realmente seus irmãos?
R.: Sim, é exato. É correto. Marta e Lázaro eram seus irmãos.
Maria Madalena aparece pela primeira vez na Bíblia por volta do ano 25, situada em um povoado de pescadores, em Cafarnaum, na Galiléia, onde Jesus adquiriu rapidamente uma reputação de curandeiro.O que vem depois na sua vida conheceremos melhor, mais tarde, neste mesmo texto. Podemos dizer que devido ao seu papel essencial na ressurreição, chamaram-na de Apóstolo dos Apóstolos (Apostola Apostolorum). O fato de ter sido a primeira testemunha da ressurreição lhe outorga uma grande autoridade. Se o papel de Maria Madalena tivesse sido mais bem conhecido isso resultaria originando uma Igreja mais universal ou plural.
A cena da ressurreição é de uma importância capital. Comprovaremos. Esta cena é ademais muito íntima. Eis aqui um exemplo da familiaridade desta cena. Há que explicar que o aramaico é a língua falada na Palestina daqueles tempos. Em aramaico o nome de Maria é Maríam. Jesus Cristo nunca utilizou esta língua quando fazia milagres, quando se dirigia a Deus ou quando estava sobre a cruz… Mas ali, quando viu Maria Madalena, depois da ressurreição, falou em aramaico e lhe disse: «Maríam…». Ali ela se dá conta subitamente de que está na presença de Jesus e lhe respondeu: «Rabboni…», que em hebreu quer dizer Mestre… Esta cena é muito íntima e muito comovente por parte de Cristo e por parte do casal.
A Lenda Dourada nos explica também a chegada de Maria Madalena à orla francesa a bordo de um pequeno barco desprovido de velas e remos.
Segundo a tradição havia muitas pessoas a bordo da embarcação, entre eles Marta, Sara, várias Marias, Lázaro, o bispo Maximino, José de Arimatéia, etc. «Foram introduzidos em uma nave pelos infiéis e abandonados no mar sem piloto para que fossem engolidos. No entanto, por milagre, eles desembarcaram no que é hoje Saintes-Maries-de-la-Mer».
Uma das provas mais antigas é o Tapiz del Exílio, com uma datação de mil oitocentos anos, que pertence a Jeremy Pine, antiquário americano que é o conservador permanente deste tesouro. Um fragmento deste tapete representa a fuga de Maria Madalena. É vista aureolada, com o cabelo avermelhado, levando uma marca na testa e dentro de uma embarcação de cor azul. Vemos várias pessoas, entre eles, um menino. Parece ver-se um cálice dentro das bagagens.
Em 1212, Gervais de Tilbury menciona por escrito que setenta e duas pessoas (homens e mulheres), discípulos de Jesus Cristo, foram expulsos da Judéia e ameaçados pelo mar em um barco desprovido de remos.
Segundo um especialista alemão, que adquiriu o Evangelho de Maria (o qual se «perdeu», justo quando se começa a falar de Maria Madalena como prostituta), diz-se que Maria Madalena tem uma visão na qual Jesus lhe diz que ele vê sua nova imagem… Depois ela exorta os apóstolos a seguir as diretrizes de Jesus e a pregar seus ensinamentos aos não crentes.
Então Maria Madalena começa um papel rigoroso de apostolado e de evangelização. Ela converteu o sul da Gália ao cristianismo. Depois passa o resto da sua vida em uma gruta, em Sainte-Baume, situada ao sul da França. Muitos afirmam possuir relíquias de seus ossos e mechas de sua célebre cabeleira avermelhada.
Dizem que Maria Madalena viveu de alimentos divinos durante trinta anos nesta gruta, que vivia ali em penitência e submersa na contemplação, e que um dia desceu em direção à planície, até o oratório do Santo Maximino, e recebeu em comunhão o Corpo e o Sangue do Cristo. Morreu nos braços de São Maximino e sua alma voou para seu Salvador.
É triste saber que a Revolução Francesa e o Terror que se seguiu não foram brandos em relação a sítios como este por causa, sobretudo, da proteção real da qual se beneficiava antes e, por isso, sobretudo, muitas relíquias se perderam.
No século XIII, um culto a Maria Madalena se desenvolve na cidade de Vézelay, na Borgonha, com as relíquias de Maria Madalena. Doze anos mais tarde encontram novas relíquias de Madalena em uma cripta de São Maximino, perto de Aix-en-Provence… Uma capela está dedicada a ela em Marselha. Está construída sobre as ruínas de um antigo templo consagrado a Diana de Éfeso. O aniversário dela é em 22 de julho.
Em São Maximino, ao sul da França, irmãos dominicanos apresentaramocrâniodotadodeum pedaçodepele milagrosamenteconservado no lugar onde Jesus Cristo tocou a fronte dela depois da ressurreição.
Na literatura da época, rendem-lhe culto. Há monumentos, conventos, igrejas, capelas que são dedicados a ela em Provença (França) e Nápoles (Itália), entre outros lugares. Sua fama perdurou durante todo o período medieval, mas finalmente foi vítima das reformas empreendidas pelo Concílio de Trento, reunidas mais tarde no século XVI, cujo objetivo era o de replicar aos protestantes, pois estes apontavam o culto aos Santos para zombarem.
P.: Oscar, o que pode nos dizer?
R.: Sim, é bem certo que os ditames do Concílio de Trento foram utilizados mais tarde pelo protestantismo, que atacava a Igreja Católica pela forma indiscriminada em que estava nomeando Santos. Também é certo que a Igreja Católica se aproveitou destes ataques feitos pelos protestantes como desculpa, que lhes veio muito bem, sob medida, para tentar apagar da história do cristianismo legítimo a imagem e a trajetória dessa mulher sagrada. Assim, começou praticamente uma cruzada contra Maria Madalena e, de passagem, o catolicismo já colocava barreiras para que o ofício litúrgico só ficasse nas mãos dos varões, isto é, dos homens.
O LADO DESASTROSO DA HISTÓRIA
Há que explicar, para começar, que o cristianismo passou de uma religião judia estranha (segundo a qual o fim dos tempos se aproximava) a uma religião diferente da de Jesus Cristo.Além disso, os romanos modificaram o antimaterialismo revolucionário de Jesus Cristo utilizando o cristianismo (termo que aparece pela primeira vez no século II) para justificar a acumulação de poder e riquezas, em vez de favorecer a Auto-realização preconizada por documentos gnósticos como o Evangelho de Tomás ou o de Maria.
Eliminaram a busca do saber e a possibilidade de aproximar-se de Deus de maneira individual. Denunciaram como heresia as tradições ligadas aos Mistérios e às práticas gnósticas.
P.: Como você vê isto, Oscar?
R.: Isso é parte da tentativa que a igreja fez, a partir do Concílio de Trento, e continua fazendo, para estabelecer um credo fabricado artificialmente por eles e para afastar-se para sempre dos postulados gnósticos cristãos que Jesus Cristo estabeleceu originalmente.
No século IV Constantino se convertia a um tipo de cristianismo ortodoxo e o Estado romano tornou-se cristão, pois o Estado começou a exercer sua influência sobre o cristianismo. O Império, que sempre havia sido anticristão, tornou-se cristão. Assim, ditou a forma que o cristianismo devia ter como credo.
P.: Oscar, o que você pode nos dizer? É incrível.
R.: Esse foi um dos grandes erros da Igreja Católica: buscar o poder a todo custo, custe o que custar. E, se necessário, vender a doutrina a um poder político, pois o fizeram muitas vezes.
P.: Neste caso é a Grande Lei quem aceita que o cristianismo passe às mãos de Constantino?
R.: O que a Grande Lei divina queria era expandir os ensinamentos de Jesus por todo o Império, e assim também por todos os países do mundo. Mas, infelizmente, os que se mobilizaram rapidamente desde as filas cristãs para se unirem a Constantino foram aqueles cristãos que não queriam seguir os ensinamentos originais de Jesus, e que mais tarde formariam o que hoje é a Igreja Católica. Tudo isto foi provocado por causa do estado egóico avançado nas pessoas daqueles tempos, e por sua vez faz parte, e segue fazendo parte, do Kali-yuga, isto é, da época de trevas que já estava em marcha sobre a humanidade.
P.: A Gnose poderia cair nessa busca de poder político se existisse como Igreja Gnóstica?
R.: Não tanto por haver uma Igreja Gnóstica, mas a Gnose poderá, sim, cair no mesmo erro no futuro, se nós nos esquecermos que a nossa busca é interior e não exterior.
Entre os romanos dessa época havia uma profusão de movimentos espirituais que odiavam a carne: estoicismo, maniqueísmo, neo-platonismo. Além disso, o Evangelho de Maria, no século IV, era o principal obstáculo para a instauração da preeminência masculina. Assim, havia que refazer a imagem de Maria Madalena e tirar do meio o seu Evangelho, já que neste Evangelho a autoridade é definida como se apoiando, não em uma hierarquia masculina, mas numa liderança de homens e mulheres que conquistaram uma força com caráter e maturidade espiritual.
P.: Oscar, o que você pode nos dizer?
R.: Isso sempre foi o erro dos que traíram a mensagem original de Jesus e o que os levou a considerar que o importante era que um homem dirigisse a Igreja, sem levar em conta se esse homem realmente tinha os méritos internos perante a Grande Lei e perante a Hierarquia Divina para poder fazê-lo. Por isso, a graça que a Gnose tem, no sentido divino, é que dá direitos iguais aos homens e às mulheres de poder alcançar os níveis mais altos da espiritualidade independentemente do sexo que se tenha.
Dizem que no século II a Igreja se expandia e afastou as mulheres buscando submetê-las, oprimi-las e fazê-las calar, da mesma forma tratou de fazer com o elemento que as representava aos olhos de alguns: a sexualidade. Só alguns grupos gnósticos eram reputados pela importância que davam às mulheres. No século IV, declarou-se que a mãe de Jesus Cristo era virgem. A castidade tornou-se um ideal e as mulheres ficaram reduzidas a tentadoras… É somente no século XII que se exige o celibato aos sacerdotes católicos romanos, mas a incitação começou muito antes.
P.: Oscar, viver o Caminho, para uma mulher, é, então, algo quase nulo com estes conceitos, e tampouco é fácil para os homens, pois como podem sentir, vibrar, conhecer e se aproximar do Sagrado Feminino se cresceram com estes conceitos?
R.: Definitivamente. Aqueles que não sabem ver na mulher a representação de Deus-Mãe não poderão nunca receber os Fogos Sagrados e tampouco poderão se reconciliar com o Espírito Santo e a Divina Mãe. Conclusão: Negar a mulher nos Mistérios significa negar a todos o Caminho.
O objetivo da Igreja era anular o papel esotérico da mulher. A Igreja aferrou-se à maior, Maria Madalena, para introduzir seus conceitos contra as mulheres.Muitos especialistas nos dizem claramente que no dia 14 de setembro de 591, em sua homilia 33, o Papa Gregório I fundiu em um único personagem a Maria dos sete demônios, a Maria do Egito e a pecadora anônima. Alguns cristãos, como este Papa, tinham como argumentos filosóficos que a sexualidade é um pecado, um vício, e por conseqüência as mulheres eram tentadoras e fontes de pecado…
Em pouco tempo se associa Maria Madalena com a mulher adúltera, anônima, à qual Jesus Cristo Jesus salvou da lapidação, e também com outra mulher que não está mencionada no Novo Testamento, Maria do Egito, uma prostituta arrependida do século IV. Existiam várias lendas sobre outras mulheres com o nome de Maria, que foram prostitutas e que se converteram ao cristianismo…
Assim, este Papa impunha sua interpretação dos textos evangélicos e, infelizmente, os monges e os sacerdotes iam lendo e relendo outra vez este sermão.
Segundo James Carroll (ordenado sacerdote em 1969 e que deixou o sacerdócio em 1974 tornando-se depois escritor) nos diz: «Assim iniciou-se a criação de Maria Madalena como prostituta arrependida, uma manobra realizada por homens e para homens, um ponto de vista de celibato completamente inventado para os celibatários. Este movimento religioso começou a dar prova de misoginia em vez de combatê-la. O motor desta sexualização anti-sexual de Maria Madalena era uma necessidade que sentiam os homens ao querer dominar as mulheres. Esta necessidade ainda se faz sentir hoje em dia no seio da Igreja Católica, como em outros domínios».
Assim, o Papa Gregório decidiu que o pecado de Maria Madalena, já que era uma mulher arrependida, era o da luxúria. Ela se convertia, desta maneira, na contrapartida da Virgem Maria e, assim, para se redimir, uma mulher (ou um homem) tinha que renunciar a sua sexualidade.
P.: O que me diz sobre isto, Oscar?
R.: Isso é parte da negação da própria natureza humana por esta instituição católica e de maneira inquestionável os Papas contribuíram para isso, em especial o Papa Gregório I, ao afiançar este conceito de renúncia a uma função natural do corpo humano como instrumento de redenção, como instrumento para aproximar-nos do Pai. Esse é o gravíssimo erro, repito, da Igreja Católica. Há que partir da base de que o que vem a ser um pecado é a luxúria, mas não a sexualidade.
Ela foi marginalizada como pessoa, como apóstolo e como mulher do bendito Yeshuá Ben Pandirá, não somente por parte da Igreja, mas também por parte da iconografia e da arte em geral, sobretudo nos últimos séculos.
Na Idade Média, durante a Reforma e o Renascimento, enraizouse a idéia segundo a qual uma mulher não podia ser QUALIFICADA de apóstolo.
O reconhecimento da bendita Madalena como apóstolo ou como Mestra modifica a maneira como se vê Jesus Cristo e, assim, a maneira como se consegue a salvação.
P.: Seu papel foi simplificado, mesclado com o de outras mulheres, como foi o caso de uma tal Maria do Egito, que veio a ser uma prostituta arrependida, e com tudo isto pretenderam fazer uma nova e única versão. Todos os meus respeitos para essa Maria arrependida, mas a questão é que não se trata de Maria Madalena… Oscar, penso que se marginalizamos Maria Madalena marginalizamos também a ressurreição, reduzimos sua importância. Foi isso o que aconteceu?
R.: Inquestionavelmente que sim, porque ao negar o papel de Maria Madalena no contexto do Drama Crístico se desvirtua, portanto, o próprio drama, já que o Grande Mestre Jesus (Aberamentho) não poderia realizar seus processos sem o auxilio dessa grande mulher. E isto é o que a Igreja Católica nunca quis aceitar. Por esta razão não podia ser outra pessoa que Maria Madalena quem viu pela primeira vez o Salvador ressuscitado. Se a marginalizamos a importância desse testemunho se perde e se relativizam as provas e a importância da ressurreição e, portanto, a história fica sem o elemento conjugal que conecta a morte de Jesus com a ressurreição dele mesmo.
Assim, se tiramos a importância de Maria Madalena tiramos a importância da cena da ressurreição, já que ela é parte da mesma. Então a ressurreição de Jesus Cristo se torna um fato próprio que incumbe só a ele, e não como um objetivo para todos. Se valorizarmos realmente o que ela é, a cena toma uma importância crucial. Ela se torna o apóstolo da salvação, o que quer dizer seguir Jesus Cristo. E, como todos sabemos, é por meio da união sexual que podemos chegar a esta meta, a Auto-realização, que é a finalidade do Caminho. Assim, compreendemos porque a Igreja nunca falará deles como casal. No entanto, o Apóstolo Felipe fala disto (Evangelho de Felipe, Lâmina 111).Um bispo episcopal, John Spong, acha que um matrimônio entre Maria Madalena e Jesus é provável e que a conclusão que a Igreja fez está fundamentada nos maus modos com que o cristianismo sempre tratou as mulheres.
Lynn Picknett nos diz que há provas que demonstram que Maria Madalena era a mulher de Jesus. Ela acha muito estranho o silêncio em torno deste tema: «...é estranho, porque os judeus pensavam que o celibato era inconveniente e que Jesus e seus discípulos poderiam despertar suspeitas das autoridades por temor à homossexualidade. Quanto ao silêncio dentro dos Evangelhos, isso é devido a um tipo de união que os judeus não reconheciam…».
P.: Oscar, qual seria este tipo de união da qual nos fala a Senhora. Picknett?
R.: Em realidade o que houve entre Jesus e Maria Madalena foi um matrimônio celebrado em segredo mediante um rito gnóstico e que seguramente Jesus pôs em prática diante da grande Lei Divina e perante o grande Ser dele e dela.
Simão Pedro sugere que Maria Madalena deveria sair do círculo de achegados de Jesus «porque as mulheres não são dignas da vida…». O Cristo lhe responde: «Olha, eu me encarregarei de fazê-la varão, de maneira que ela também se converta em um Espírito vivente idêntico a vocês os homens.Pois toda mulher que se faça varão entrará no Reino dos Céus». O Cristo disse também: «...reduzi à unidade o masculino e o feminino, de maneira que o varão deixe de ser varão e a fêmea fêmea …».
P.: O que pode nos dizer, Oscar?
R.: O que quer dizer e quis dizer Jesus Cristo a Simão Pedro, e de passagem diz a todos nós, é que, tal como explica a Gnose contemporânea do Venerável Mestre Samael Aun Weor, é possível que uma mulher participe da vida eterna quando ela põe em atividade o seu Cristo íntimo. E isto foi o que Jesus quis dizer aos apóstolos: «Eu vou trabalhá-la de tal maneira que se torne Homem», isto é, que se torne uma encarnação vivente do Filho do Homem, ou seja, do Cristo íntimo. E esse é o papel de toda mulher e de todo homem: chegar a Cristificar-se.
Não podemos esquecer as mulheres que foram queimadas na época da Inquisição, na chamada «caça às bruxas». Tive a oportunidade de estudar este tema na universidade, no Canadá. Ali nos diziam que a maioria das mulheres queimadas, torturadas, eram simplesmente herbologistas, curandeiras, parteiras, etc.
Além disso, o Venerável Mestre Samael Aun Weor nos confirma que muitas destas mulheres eram gnósticas e que poucas eram bruxas verdadeiras. Estas mulheres foram martirizadas pela Igreja, mas como isto ficou distante no tempo já não nos toca e o relativizamos. Nesta época ia-se religiosamente contra a Gnose e contra as mulheres.
Também não podemos nos esquecer dos Cátaros, que foram encurralados, torturados e executados pela Igreja medieval. Mais de um milhão deles foram massacrados devido às suas crenças, chamadas heresias, segundo as quais Maria Madalena havia sido a esposa do Cristo Jesus e que por isso era a verdadeira fundadora espiritual do cristianismo no mundo ocidental.
P.: Por que os católicos e os cristãos ortodoxos se distanciaram tanto dos primitivos cristãos e além disso chegaram a matar em nome de Deus? E tudo isto sem contar o julgamento que fizeram à grande Joana d'Arc !
R.: Isso aconteceu porque esses pseudo-cristãos, que depois se tornaram católicos, na realidade, conscientemente, por ânsias de poder, quiseram trair a mensagem original de Jesus. E tudo o que poderia se converter em ameaças aos seus propósitos pessoais eles atacaram, inclusive com exércitos armados. E daí a perseguição e matança dos Templários, dos Cátaros, dos Carbonários, que eram os Iniciados que continuavam em segredo divulgando a verdadeira e legítima mensagem de Jesus Cristo.
Evidentemente não há que cair no feminismo ou regressar à época das amazonas. Não, longe disto. Simplesmente há que encontrar este equilíbrio, esta relação sã entre o homem e a mulher. Quando há esta amálgama do homem e da mulher em uma sociedade, na vida cotidiana, isso repercute em nossa vida íntima e espiritual.
P.: Para mim, ela - não acho que seja uma blasfêmia se digo isso - é esta representação, este aspecto da energia do Cristo em feminino. Conhecemos o aspecto feminino e masculino do Terceiro Logos. Podemos afirmar que Yeshuá Ben Pandirá e Maria Madalena são o aspecto feminino e masculino do Segundo Logos? Além disso, os dois representam um aspecto divino e humano, ao mesmo tempo. O que você pode nos dizer, Oscar?
R.: Não podemos dizer de maneira oficial que Maria Madalena e Jesus são o aspecto feminino e masculino do Segundo Logos (em termos cabalísticos), mas sim podemos dizer que Maria Madalena e Jesus Cristo são expoentes vivos desse Segundo Logos.
CONCLUSÃO
Foi somente em 1969 que o Vaticano anulou esta interpretação (de Maria Madalena como prostituta) sem desculpa alguma ou declaração oficial, em grande parte por causa das pressões provenientes do interior da Igreja e também, dizem, das feministas.Então afirmamos que, não somente nunca foi prostituta, mas que, além disso, é uma heroína, uma santa, uma mulher Auto-realizada, a discípula favorita e, simultaneamente, a mulher do Venerável Mestre Aberamentho. Uma mulher divina e ao mesmo tempo muito humana.
Todos os especialistas, teólogos e especialistas, dentro e fora da Igreja Católica em geral, crêem agora que Maria Madalena foi extremamente maltratada no curso dos séculos.
Maria Madalena é um símbolo de arrependimento e de morte psicológica. Ela representa também a feminilidade, o amor, a humildade, a fidelidade, a coragem, a visionária, a missionária. É, também, a que faz milagres, a que está transbordante de fé ao pé da cruz, a mensageira da ressurreição, uma discípula fundadora do cristianismo a quem Jesus Cristo confiou a missão de expandir a boa nova.
Ela é um símbolo de força e de coragem, já que diz aos apóstolos estando eles afligidos: «Não choreis e não vos entristeçais. Não vacileis mais, pois sua graça descerá sobre todos vós e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza…».
Ela sofre mais que todos eles e é graças a sua força, a sua grandeza, a sua sabedoria do coração que pode dizer tudo isto.
Ela ungiu o Cristo antes da ressurreição. Sem ela, o cristianismo se transformou ao longo do tempo em algo completamente diferente, bem longe da Gnose. Se Maria Madalena é considerada sagrada, a mulher é sagrada e, portanto, a sexualidade é sagrada.
Jesus Cristo disse: «Ela é o Reino de Deus».Ele disse também: «Maria, bendita és, a quem aperfeiçoei em todos os Mistérios do Alto. Fala abertamente porque teu coração é elevado ao Reino dos Céus mais que todos os teus semelhantes».
E disse: «Porque tu és bendita entre todas as mulheres da Terra e porque serás a plenitude de todas as plenitudes e a perfeição de todas as perfeições».
O Venerável Mestre Samael Aun Weor nos diz: «Maria Madalena resplandece e resplandecerá terrivelmente divina».
Há que venerá-la, estudá-la, compreender o seu papel, ainda que tenhamos sido educados em outra religião alheia ao cristianismo, por duas grandes razões. Ela é uma Grande Mestra, uma mulher Cristificada, discípula e apóstolo do maior Mestre do nosso Cosmo, Yeshuá Ben Pandirá. É um dever conhecer todos os Mestres das diferentes tradições da Loja Branca, pois estão aí para nos ajudar e porque são exemplos vivos a seguir.
Isso é tudo. Queria simplesmente compartilhar algumas destas in formações sobre Maria Madalena e sobre o Sagrado Feminino que ela representa.
Acho que, como mulher, devemos lutar, conservando ao mesmo tempo o nosso lugar, este lugar que Deus quis para nós. Bendita seja a mulher que compreende e aceita o seu papel com amor e bendito seja o homem que a compreende, a respeita, a ama e a sustenta em toda a complexidade do seu papel. Estes homens e estas mulheres poderão aproximar-se de sua Mãe Divina e compreender melhor o papel de Maria Madalena. É o que desejo para todas e todos nós…
Agradeço Oscar por sua paciência, por sua bondade, por prestarse a este questionário e por haver me acompanhado nesta busca. Evidentemente agradeço o Venerável Mestre Samael Aun Weor por haver permitido às mulheres aceder aos conhecimentos divinos, mágicos e espirituais e que podemos compreendê-los. Ninguém havia feito antes dele… depois de Jesus Cristo.
Uma das missões de Jesus Cristo é a de ter restaurado o mundo do feminino. O Venerável Mestre Samael Aun Weor também o fez.
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