A REVELAÇÃO TEMPLÁRIA - 12 - A MULHER QUE JESUS BEIJAVA

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A Revelação Templária – 12 – A Mulher que Jesus beijava


Posted by  on 03/08/2017

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A Revelação Templária, A MULHER QUE JESUS BEIJAVA
A mulher conhecida por Maria Madalena é claramente de importância enorme, embora  inicialmente intrigante, para os antigos e secretos movimentos heréticos da Europa. As suas  ligações com o culto da Madona Negra, com os trovadores medievais e as catedrais góticas,  com o mistério que rodeia o abade Saunière de Rennes-le-Château – e com o Priorado de  Sião – implicam que havia nela alguma coisa que foi sempre considerada perigosa pela  Igreja.
Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch
Capítulo 12 – A MULHER QUE JESUS BEIJAVA  – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians  of the True Identity of Christ”, de  Lynn Picknett e Clive Prince.
CAPÍTULO XII – A MULHER QUE JESUS BEIJAVA
Como vimos, muitas lendas rodearam esta mulher enigmática e poderosa. Mas quem era ela  e qual é o seu segredo?
Há, como vimos, poucas referências explícitas a «Maria Madalena» nos Evangelhos do  Novo Testamento. Mas é evidente, pela maneira como é referida, que ela era a mais  importante das discípulas de Jesus – todas elas, ainda hoje, quase totalmente ignoradas pela Igreja. Se esta chama a atenção para elas, é geralmente com a interpretação tácita de que, de  algum modo, a palavra «discípulo» tem mais peso quando aplicada a homens. Na verdade,  o papel das discípulas foi minimizado até ao ponto mais culpável pelos comentadores que  se sucederam aos evangelistas.
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Porque, embora os judeus possam ter enfrentado problemas  sociológicos e religiosos com o conceito de mulheres importantes devido à sua cultura, os  críticos mais recentes não têm essa desculpa. Contudo, o debate sobre a ordenação das  mulheres do ministério anglicano – para citar apenas um exemplo – mostra que pouco mudou em dois mil anos. Para todos os frequentadores das igrejas, «os discípulos» são  automática e exclusivamente importantes personagens masculinas: Pedro, Tiago, Lucas,  etc., e não «Maria Madalena, Joana, Salomé…» apesar do fato de estas mulheres serem  referidas até pelos evangelistas.
Durante as intermináveis discussões sobre a ordenação das mulheres (mesmo as mulheres  interessadas foram muito escrupulosas em não usar o termo «pagão» sacerdotisa), foram  citadas extraordinárias deturpações como «prova» de que as mulheres não estavam  destinadas a ser membros do clero. Por exemplo, foi dito que Jesus escolheu os seus  discípulos apenas entre os homens, apesar do fato de, como vimos, estarem registrados nomes de mulheres como fazendo parte do seu grupo e  do fato de que a tradição judaica da época significasse que, se tivesse sido possível aos  evangelistas ignorá-las totalmente, eles tê-lo-iam feito. O fato de os seus nomes serem  indicados significa que elas tiveram um papel inevitavelmente importante no ministério de Cristo – o  que foi certamente o caso das gerações seguintes de cristãos. Porque, como Giordio  Otranto, um professor italiano de História da Igreja, e outros eruditos demonstraram  conclusivamente, durante várias centenas de anos, as mulheres foram não só membros da congregação como foram, de fato, sacerdotes e mesmo bispos.
Como autoridade sobre o papel das mulheres na cristandade primitiva, Karen Jo Torsejn  escreve em “When Womem Were Priests” (1993):
“Sob um alto arco de uma basílica romana, dedicada a duas santas, Prudenciana e Praxédis,  existe um mosaico que retrata quatro figuras femininas: as duas santas, Maria e uma quarta  mulher, cujo cabelo está coberto com um véu e cuja cabeça está rodeada por uma auréola  quadrada – uma técnica artística, indicando que a pessoa ainda estava viva na ocasião em que o mosaico fora pintado. Os quatro rostos olham serenamente, recortados contra um  resplandecente fundo dourado. Os rostos de Maria e das duas santas são facilmente  reconhecíveis. Mas a identidade da quarta é menos aparente. Uma inscrição  cuidadosamente gravada identifica o rosto, à esquerda, como Teodora Episcopa, o que significa Bispo Teodora. Em latim, a forma masculina de bispo é episcopus; a forma  feminina é episcopa. A prova visual do mosaico e a prova gramatical da inscrição indicam inequivocamente que o bispo Teodora era uma mulher. Mas o a de Theodora foi parcialmente apagado por arranhões no vidrado do mosaico, levando à inquietante conclusão de que foram feitas tentativas para danificar a terminação feminina, talvez  ainda mesmo na antiguidade”.
Os sacerdotes podem envolver-se em dificuldades lógicas para tentar minimizar estas  representações gráficas de sacerdotes femininos – alguns tentaram mesmo reduzir Teodora  à condição de mãe do bispo -, mas os fatos falam por si. As mulheres não eram úteis  apenas na confecção do equivalente do século I ao café e sanduíches: elas celebravam a  eucaristia e dirigiam a congregação durante o culto. Não havia nenhuma sugestão, nesses  primeiros tempos, de que uma mulher menstruada maculasse o pão e o vinho simbólicos,  como em tempos recentes.
Foi apenas em Novembro de 1992 que a Igreja de Inglaterra votou a espinhosa questão da ordenação de mulheres e, por uma simples margem de dois votos, decidiu autorizá-las a serem ordenadas.
Embora não seja nossa intenção insistir na controvérsia da ordenação de mulheres,  expressamos a nossa simpatia com as muitas mulheres que tentaram, contra todas as  dificuldades, explicar aos «superiores» masculinos que tudo o que pediam era um regresso  ao método que existia no princípio, não uma reinterpretação radical do século XX. Ao exigirem que lhes fosse permitido serem ordenadas, estas mulheres não pediam mais do que  os direitos que teriam tido séculos atrás. (Espantosamente, a verdadeira situação das  mulheres na Igreja primitiva parece ter sido conhecida no século XVI. O Tratado de Agripa sobre a superioridade das mulheres, discutido no Capítulo VII, inclui as palavras [nós não]  ignoramos as muitas e santas abadessas e freiras que existem entre nós, às quais a antiguidade não desdenharia chamar sacerdotes.)
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Há, no entanto, muito boas razões para as mulheres serem tão importantes no culto de Jesus – culto que, infelizmente, tornou inevitável que certos tipos de homens procurassem  despromovê-las e denegri-las. Embora esta questão seja tratada mais tarde, é suficiente  dizer agora que não há nenhuma dúvida de que as mulheres desempenharam um papel  eclesiástico importante na primitiva Igreja cristã NÃO romana, um papel que era, no mínimo, igual ao dos homens.
Segundo uma das hipóteses mais condescendentes dos sacerdotes, as mulheres, cujos  nomes estão registrados nas epístolas e nos atos, eram apenas as que ofereciam  hospitalidade aos apóstolos quando estes andavam a pregar e a batizar. Mulheres com  nomes como Luculla e Philippa recebem agradecimentos pelo seu patrocínio, e é evidente que muitas destas mulheres eram ricas e talvez surpreendentemente independentes para a  sua época e cultura. Embora possamos contestar a ideia de que esta fosse a sua única  função, é evidente, pelo modo como Maria Madalena é descrita, que ela foi uma das  primeiras patrocinadoras.
Ela e outras mulheres «serviam-nos [Jesus e os seus discípulos] com os seus haveres»,  indicando que elas os sustentavam financeiramente. As mulheres são sempre descritas  como «seguindo-o», e as palavras originais, de fato, implicavam participação plena nas  atividades e práticas do grupo.
Como vimos, Maria Madalena é a única mulher dos Evangelhos que não é identificada pela  sua relação com um homem – como irmã, mãe, filha ou esposa. Ela é simplesmente  indicada pelo nome. Embora isto possa refletir ignorância sobre a sua identidade, por parte  dos cronistas, é mais provável que ela fosse tão conhecida no seu tempo que fosse  inconcebível que qualquer dos primeiros cristãos não soubesse imediatamente quem ela era.
Mas, apesar das suas relações com outros serem discutíveis, uma coisa emerge claramente  dos relatos dos Evangelhos: Maria Madalena era uma mulher independente. E, como  observa Susan Haskins, isto comporta uma clara implicação de que ela tinha «alguns meios».
Curiosamente, são raras as outras figuras do Evangelho que são referidas como Maria (a)  Madalena, e, desse pequeno grupo, as duas que saltam aos olhos são Jesus, o Nazareno, e  João, Baptista (ou, conforme a descrição preferida, aquele que batiza).
O que significa o seu nome? «Madalena» parece significar «de Magdala», e sempre se  considerou que esta designação se referia à cidade piscatória de El Mejdel da Galileia. Mas  não há nenhuma prova de que seja assim ou de que a cidade fosse conhecida por Magdala  no tempo de Jesus. (De fato, o historiador judeu Josefo designou El Mejdel por Taricheia.) Havia, no entanto,  uma cidade de Magdolum, no nordeste do Egito, próximo da fronteira com a Judeia –  provavelmente a Migdol mencionada em Ezequiel.
O significado de Magdala tem sido sujeito a várias interpretações possíveis, tais como  «lugar da pomba», «lugar da torre» e «torre do templo». Pode ser ainda que o nome de Maria Madalena fosse também uma referência a um lugar ou a um  título, porque, no Antigo Testamento, existe uma expressiva profecia (Mica 4:8):
E tu, oh! Torre do rebanho, a fortaleza da filha de Sião, virá até ti, mesmo o primeiro  domínio; o reino virá para a filha de Jerusalém.
Porque, como observa Margaret Starbird no seu estudo (1993) do culto de Madalena, The  Woman with the Alabaster Jar, as palavras traduzidas por torre do rebanho são Magdal-elder, acrescentando:
Em hebraico, o epíteto Magdala significa literalmente torre ou elevado, grande, magnífico.
A ligação de Madalena com torres e, mais significativamente, com a restauração de Sião,  foi conhecida durante a sua vida? Também é muito expressivo que Magdala significasse  «torre do rebanho», com as suas implicações de torre de vigia ou guardiã de seres menores  – talvez mesmo de ser uma «Boa Pastora».
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A Torre de Magdala em Rennes le Chateau
Maria Madalena já causara agitação nos nossos dias quando, no livro The Holy Blood and the  Holy Grail”(O Santo Graal e a Linhagem Sagrada), foi afirmado que ela fora esposa de Jesus Cristo. Embora esta sugestão não fosse, de  fato, nova, era a primeira vez que a maioria das pessoas tivera conhecimento dela, e, como era de prever,  causou sensação. A culpa associada ao sexo está tão arraigada na nossa cultura que  qualquer sugestão de que Jesus tivera uma companheira sexual – mesmo no contexto de um  casamento monógamo e de amor – é considerada por muitos cristãos como tendo alguma  coisa de sacrílego e chocante. O conceito de um Jesus casado continua a ser considerado,  de maneira geral, como improvável, na melhor das hipóteses, e como obra do Diabo, na pior. Mas há muitas razões para acreditar que Jesus tivesse um relacionamento íntimo – e,  muito provavelmente, com Maria Madalena.
Muitos comentadores têm referido que o completo silêncio, por parte do Novo Testamento,  sobre o estado marital de Jesus é muito estranho. Os cronistas da sua época e lugar  descreviam as pessoas, habitualmente, em termos do que as tornava diferentes das outras –  e, para um homem de mais de 30 anos, não ser casado teria sido virtualmente único.  Devemos recordar que nos baseamos no quadro de Jesus pintado pelos evangelistas e nas  suas fontes: a sua perspectiva era essencialmente judaica. Os judeus consideravam o  celibato impróprio porque sugeria uma relutância em criar a próxima geração do povo  eleito do Senhor, e era motivo da censura dos anciãos da sinagoga. Alguns rabis do século II, de acordo com Geza Vermes, «comparavam a deliberada abstenção de procriação ao  assassínio». As genealogias da Bíblia, muitas vezes sem fundamento, provam que os judeus eram uma raça orgulhosamente dinástica e, na verdade, ainda dão grande  importância aos laços familiares. O casamento foi sempre central para a cultura judaica –  muito especialmente quando a nação estava ameaçada, tal como estava sob o domínio  romano. Para um pregador carismático e famoso, não ser marido e pai teria sido um  escândalo, e teria sido um milagre que o seu grupo tivesse subsistido durante muito tempo, principalmente para além da morte do seu fundador.
Segundo o Novo Testamento, Jesus e os seus discípulos tinham muitos inimigos. Contudo,  não se conhecem acusações de eles serem um enclave homossexual – como, sem dúvida,  teria havido se eles tivessem sido um grupo de homens celibatários: se tal escândalo tivesse  existido, a notícia teria chegado a Roma e conhecê-la-íamos hoje. Insinuações deste gênero  não são exclusivas dos atuais tabloides – Pilatos e o seu grupo eram romanos sofisticados e mundanos – e os judeus reconheciam a existência da homossexualidade, embora apenas para a condenarem. Se Jesus e os seus discípulos fossem celibatários e pregassem o celibato, só isso teria causado sensação entre as autoridades.
Os eruditos evitam, geralmente, a questão do celibato, acreditando na Tradição da igreja romana,  segundo a qual Jesus não era casado. Mas, quando o assunto é discutido, as dificuldades de provar a sua situação marital emergem muito claramente. Por exemplo – como vimos com o escritor Geza Vermes, na sua tentativa de definir o  Jesus histórico, chegou à conclusão de que ele se ajustava melhor ao perfil dos Hasidim – os  herdeiros dos profetas do Antigo Testamento. Deste modo, ele tenta – umas vezes com  bastante êxito, outras nem tanto – explicar os atos e as doutrinas de Jesus em termos desse  papel, comparando-os com os de outros conhecidos hassideanos dessa época e lugar.  
Contudo, quando aborda a questão do celibato de Jesus (que ele aceita) encontra  dificuldades. Tem de admitir que os hassideanos individuais, que ele usa como  comparação, eram casados e tinham filhos. De fato, ele apenas consegue encontrar uma  figura piedosa daquela cultura que exaltasse o celibato – Pinhas ben Yair, que viveu um século depois de Cristo e nem era um hassideano. Espantosamente, foi o suficiente para Vermes concluir que Jesus tinha uma maneira de viver semelhante, mas outras pessoas  podem não ficar convencidas tão facilmente. O celibato de Pinhas era tão invulgar que o  tornou conhecido apenas por esse motivo. Não há nenhuma sugestão de que a maneira de  viver ou a mensagem de Jesus realçassem ou promovessem o celibato: se o tivessem  promovido, certamente teríamos conhecimento disso.
É verdade que existiam algumas seitas judaicas, como os essênios, que eram celibatários – embora, mais uma vez, saibamos isso porque o celibato era tão invulgar que provocava  comentários específicos. Algumas pessoas usaram este fato para defender o argumento de  que o próprio Jesus era um essênio. Contudo, a seita nunca é mencionada no Novo  Testamento, o que dificilmente teria acontecido se Jesus fosse o seu membro mais famoso.
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A hipótese de Jesus ser casado tem sido citada por vários comentadores modernos, mas o  silêncio dos Evangelhos sobre a questão tem outra interpretação possível. Ele podia ter tido  uma companheira sexual que não era sua esposa ou contraído uma forma de casamento que  não era reconhecida pelos judeus. (Não devemos esquecer que a tradição herética frisava que Jesus e Madalena eram  parceiros sexuais, não marido e mulher; como vimos, os Evangelhos gnósticos, os cátaros e outros movimentos de sociedades secretas referiam-na especificamente como «concubina» ou «consorte» de Jesus ou têm a preocupação de usar palavras ambíguas como a sua «união».)
Quanto à evidência positiva do estado marital de Jesus, tem-se argumentado que a Bodas de  Canaã, na qual Jesus transformou a água em vinho, era, de fato, o seu próprio casamento. No relato, a sua  posição parece ser a do noivo. Ele deve, por razões que de outro modo seriam  inexplicáveis, fornecer o vinho para a festa das bodas. E também é interessante que este acontecimento-chave, no qual Jesus realiza o seu primeiro milagre público,  apareça apenas no Evangelho de João e não seja referido nos três restantes. Pode haver, no entanto, outra interpretação deste acontecimento, que discutiremos depois.
Contrabalançando estes argumentos, encontram-se as perguntas: se Jesus era casado, por  que não existe nenhuma menção específica da sua esposa ou da sua família nos  Evangelhos? Se fosse casado, quem era a sua mulher? Por que deviam os seus discípulos  ter desejado eliminar qualquer referência a ela? Talvez eles a evitassem porque a sua relação com Jesus os ofendia e se revelava embaraçosa para a sua missão. Se eles não eram casados, mas tinham uma íntima relação sexual e espiritual, então os discípulos teriam  preferido ignorá-la.
Esta é precisamente a situação descrita de forma tão viva nos Evangelhos gnósticos, em que a identidade da companheira de Jesus é clarificada. Maria Madalena era a companheira  sexual de Jesus, e os discípulos ressentiam-se da sua influência sobre o seu líder.
Quanto à razão por que a relação de Jesus com Madalena foi encoberta, o que, atualmente,  pode parecer óbvio, não o era suficientemente no contexto do primeiro século. Podíamos  pensar que o encobrimento se devia ao fato de a Igreja cristã ter sempre, aparentemente,  julgado as mulheres subordinadas e considerado a procriação como um mal necessário.  Contudo, a evidência é que esta atitude anti-casamento é o resultado deste encobrimento,  não a sua causa. De fato, a Igreja primitiva, antes de se ter tornado uma instituição e instituído uma hierarquia, não tinha quaisquer preconceitos contra as mulheres, como já vimos.
Que existiu um encobrimento deliberado sobre Madalena e a sua relação com Jesus é  evidente, mas a clara misoginia não o explica. Devia ter existido um outro fator que inspirou esta campanha anti-Madalena. Presumivelmente, este fator estava associado, de  algum modo, ao seu carácter ou identidade, e/ou à natureza da sua relação com Jesus. Por  outras palavras, não era o fato de Jesus ser casado, mas com quem estava casado, que constituía o problema.
Repetidamente, no decurso desta investigação, deparáramos com indicações de que  Madalena, de certo modo, tinha uma reputação desagradável. Agora, tínhamos de descobrir  o que havia nela que criava esta aura de perigo, que outros fatores, além da misoginia,  inspiraram este curioso e antigo receio desta poderosa partidária de Jesus.
A identificação de Maria Madalena, Maria de Betânia (irmã de Lázaro) e a «pecadora  anônima» que unge Jesus, de acordo com o Evangelho de Lucas, tem sido sempre acaloradamente debatida. A Igreja Católica concluiu  muito cedo que estas três figuras eram a mesma pessoa, embora só recentemente, em 1969, invertesse esta posição. A Igreja Ortodoxa Oriental sempre considerou Maria Madalena e  Maria de Betânia como duas figuras distintas.
Certamente, discrepâncias e contradições tornam a questão obscura – mas esta confusão é, em si mesma, significativa, porque os Evangelhos, como uma pessoa culpada, têm tendência para se tornarem obviamente evasivos quando tentam esconder alguma coisa. O  fato de que estas evasivas rodeiam todas as descrições de Betânia, da família que lá residia  – Lázaro, Maria e Marta – e dos acontecimentos que lá ocorreram torna todo este tema mais,  e não menos, sugestivo.
Como vimos, a descoberta de Morton Smith prova que a supressão da história da ressurreição de Lázaro, no Evangelho de Marcos, foi um ato deliberado de censura.  Contudo, na sua única versão canônica que subsiste – no Evangelho de João -, é um dos  principais acontecimentos de toda a história. Então, por que razão os primeiros cristãos, que  se esforçaram por eliminá-lo, pelo menos de outros Evangelhos, se sentiam tão  constrangidos por ele? Ou era porque a história também incluía Maria? Ou o lugar, Betânia,  também estava, de algum modo, maculado?
O Evangelho de Lucas (10:38) descreve um episódio em que Jesus visita a casa de duas  irmãs, Maria e Marta, mas não há nenhuma referência a um irmão, nem – de forma  significativa – é designado o nome do lugar. É chamado apenas «uma certa aldeia», de uma  maneira tão brusca que levanta suspeitas imediatas. Afinal, não é como se o nome do lugar  fosse totalmente desconhecido dos outros cronistas. Lázaro é também deliberadamente  suprimido do Evangelho de Lucas. Mas que se passava com aquele lugar e com a família  que lá residia? (Talvez haja uma indicação no fato de que João Baptista iniciou o seu  ministério num lugar chamado Betânia.)
É também o Evangelho de Lucas (7:36-50) que apresenta a versão mais obscura da unção dos pés de Jesus. É o único dos evangelistas que situa o episódio em Cafarnaum, no princípio do ministério de Jesus, e não indica o nome da mulher que, aparentemente,  interrompeu a sua refeição, ungindo-lhe a cabeça e os pés com o precioso bálsamo de nardo, e os enxugou com o seu próprio cabelo.
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Madalena, ruiva, a pomba e o vaso de alabastro, o cálice
o símbolo da era astronômica iniciada em torno de 148 a.C., a Era de Peixes que terminou em 21 de dezembro de 2.012 a.D., quando então começou a Era Astronômica de Aquário
O Evangelho de João (12:1-8), no entanto, é explícito sobre a questão. A unção ocorre em  Betânia, na casa de Lázaro, Maria e Marta, e é Maria quem realiza a unção. O relato de  João (11:2) sobre a ressurreição de Lázaro também frisa que Maria, a irmã de Lázaro, é a  mulher que, mais tarde, unge Jesus.
Nem Marcos (14:3-9) nem Mateus (26:6-13) registram o nome da mulher em questão, mas concordam que o episódio ocorreu em Betânia, dois dias (ao contrário dos seis de João) antes da última Ceia. No entanto, segundo eles, a unção ocorreu na casa de um certo Simão, o Leproso. Parece que tudo em Betânia e naquela família provocava grande inquietação nos cronistas sinópticos, a ponto de «iludir» a questão,  embora tivessem de incluir o episódio. Sentiam-se incomodados com a história de Betânia –  talvez pelas mesmas razões que a tornaram tão importante para o movimento secreto  herético.
Betânia também é importante porque Jesus partiu dali para a sua jornada fatal para  Jerusalém – para a Última Ceia, para a sua prisão e crucificação. E, embora os discípulos  pareçam desconhecer a tragédia iminente, há indicações de que a família de Betânia não estava tão desprevenida, e, como vimos, fizera alguns preparativos, tal como providenciar o  jumento que Jesus montava quando entrou na capital.
Maria de Betânia e a mulher anônima que unge Jesus são, evidentemente, a mesma pessoa –  mas era também Maria Madalena? A maioria dos eruditos modernos acreditam que Maria de Betânia e Maria Madalena eram duas mulheres distintas. Mas a pergunta mantém-se: por  que teriam pretendido os evangelistas «iludir» esta questão?
É certo que alguns eruditos são da opinião de que Madalena e Maria de Betânia eram a  mesma pessoa. William E. Phipps, por exemplo, considera estranho que Maria de Betânia –  que era claramente uma amiga íntima de Jesus – não fosse especificamente referida pelo  nome, quando assistiu à crucificação, e que Maria Madalena, de súbito, surja junto da cruz,  sem qualquer referência prévia. Phipps também indica que é possível que dois epítetos  distintos – «de Betânia» ou «de Magdala» – fossem aplicados à mesma pessoa, consoante o  contexto, o que se torna ainda mais provável, se os autores estivessem deliberadamente a tentar obscurecer a questão.
Contudo, os eruditos, em geral, nem mesmo consideram a possibilidade de censura por  parte dos evangelistas ou de deturpação deliberada de certos aspectos da história que  tinham decidido relatar. (Alguns eruditos, especialmente Hugh Schonfield, admitem que há  alguma coisa que os evangelistas ou nos estão deliberadamente ocultando, acerca do grupo  de Betânia, ou há alguma coisa nele que não sabem ou não compreendem.) Uma vez que é admitido este «iludir da questão», torna-se possível, então, que Maria de Betânia e Maria  Madalena fossem a mesma pessoa.
Esta investigação começou com um exame da tradição secreta de que Leonardo da Vinci e  a sua suposta irmandade, o Priorado de Sião, são um exemplo. Como vimos, a primeira vez que os leitores de língua inglesa  ouviram falar do Priorado de Sião foi em The Holy Blood and the Holy Grail – e este livro  demonstra inequivocamente que Maria Madalena e Maria de Betânia eram a mesma pessoa.  Mas a edição revista, de 1996, apresenta novos elementos, incluindo o «documento  Montgomery», que, como vimos, parece reforçar toda a base de The Holy Blood and the  Holy Grail.
Especificamente, no contexto, o documento refere que Jesus era casado com Maria de Betânia e que esta foi para França e teve uma filha. É evidente que Maria se supõe  ser Maria Madalena – embora, aqui, o ponto importante seja o fato de que os apologistas  do Priorado acreditam que é este o caso. E não devemos esquecer que, em todos os relatos  tradicionais da vinda de Maria Madalena para França – como The Golden Legend – se parte  do princípio de que ela é a mesma que Maria de Betânia. Mas há alguma prova que apoie  esta hipótese?
Há uma indicação em Lucas, o qual, depois de descrever a unção de Jesus pela «pecadora  anônima», apresenta imediatamente Madalena pela primeira vez (8:1-3). Parece que, pelo  menos inconscientemente, para Lucas, a associação era demasiado forte para ser ignorada.
É significativo que o próprio Jesus associe não só o ato da unção mas também a pessoa  que o ungiu à sua morte próxima, como, por exemplo, em Marcos (14:8): «Ela fez o que  podia: antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.» Há uma associação implícita  entre esta mulher de Betânia e Maria Madalena, porque é esta que vai ao túmulo, dois dias  depois, ungir o corpo de Jesus para ser sepultado. Mas a unção de Jesus vivo e a unção  futura do seu cadáver são atos rituais de grande significado e, no mínimo, eles associavam  as duas mulheres. Em todo o caso, é de suprema importância que a pessoa que unge Jesus –  marcando-lhe o seu verdadeiro destino – seja uma mulher.
Apesar de não ser impossível que elas fossem a mesma pessoa, é preferível manter o  espírito aberto sobre a questão, à medida que continuamos a aprofundar o relato bíblico das  figuras e dos papéis de Maria Madalena e Maria de Betânia. É significativo que a ideia persistente de que Maria Madalena era uma prostituta derive da  tradicional associação (ou confusão) da sua figura com Maria de Betânia, que é descrita  como «uma pecadora». É evidente que, se Maria de Betânia era uma pecadora e era a  mesma pessoa que Maria Madalena, isso contribuiria muito para explicar a extrema  precaução – e a deliberada ofuscação – dos evangelistas relativamente à última. Era  necessário examinar a figura de Maria de Betânia e verificar que luz ela pode lançar sobre  esta questão.
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Nos Evangelhos sinópticos, não é referido o nome da mulher que unge Jesus, embora  insistam que ela é uma pecadora, mas, no Evangelho de João, ela é explicitamente  identificada como Maria de Betânia e a sua condição moral não é mencionada. Isto, em si  mesmo, podia parecer um tanto suspeito.
Em Lucas, a mulher que unge Jesus é descrita como «uma mulher da cidade, que era uma  pecadora». Embora o original grego de «pecadora», neste contexto – harmartolos,  significando a pessoa que transgrediu e se colocou fora da lei – não implique  necessariamente prostituição, o outro realce associado ao uso do seu cabelo solto – algo que  as mulheres decentes não faziam – implica alguma espécie de pecado sexual, pelo menos  aos olhos dos evangelistas.
No contexto da cultura judaica daquela época, havia alguma coisa de escandaloso em Maria  de Betânia, mas isso não sugeria necessariamente que ela fosse uma vulgar prostituta,  exercendo a sua profissão na rua. (O unguento de nardo, extraído de uma planta indiana  muito rara e valiosa, era tão excessivamente caro que estaria para além dos recursos de uma  vulgar mulher de rua. Segundo William E. Phipps, o unguento de nardo custou-lhe o  equivalente ao salário anual de um trabalhador agrícola.) Também parece improvável  que, mesmo que Maria fosse a rica «madame» de um bordel, ela vivesse abertamente com  os seus irmãos, Lázaro e Marta, e nenhum deles parece ter tido qualquer espécie de má  reputação e eram claramente grandes amigos de Jesus, que os visitava. Assim, qual era a  verdadeira natureza do seu «pecado»?
Harmartolos era um termo dos arqueiros que significava errar o alvo: neste contexto,  significa simplesmente alguém que não adere à lei ou aos ritos religiosos judaicos – ou  porque não cumpriu as práticas prescritas ou porque nem é judeu. Se a mulher não era,  de fato, judia, isso explicaria, no mínimo, a atitude dos evangelistas para com ela. Contudo, foi o pormenor de ela usar o cabelo solto – e a atitude dos discípulos para com ela  – que deu origem à implicação de que a sua transgressão era, de algum modo, sexual.
E este aspecto desagradável que, intencionalmente ou não, diminuiu efetivamente o  verdadeiro significado da unção de Jesus. Há um ponto importante deste ato que despertou  muito pouca atenção, mas do qual depende, de fato, grande parte do cristianismo. É bem  conhecido que o termo «Cristo» deriva do grego Christos, que, por sua vez, é uma tradução  do hebraico «Messias». Mas, apesar da crença generalizada em contrário, ele não comporta  nenhuma implicação de divindade: Christos significa apenas «ungido». (Usando esta  interpretação, qualquer servidor do Estado que seja ungido é um «Cristo» – desde Pôncio Pilatos à rainha de Inglaterra). A idéia de um Cristo  divino é uma interpretação posterior dos cristãos: o Messias judaico devia ser apenas um  grande líder político e militar, apesar de eleito de Deus. No seu próprio tempo, o termo  «Messias» ou «Cristo», quando aplicado a Jesus, teria querido dizer apenas «ungido».
Certamente que apenas uma unção de Jesus é referida nos Evangelhos. Algumas pessoas  argumentam que a sua «unção» foi, de fato, o batismo celebrado por João Baptista, mas, baseado  neste raciocínio, o grande número de pessoas que afluíram ao Jordão também teriam sido  «cristos». O fato embaraçoso mantém-se: a pessoa que «o tornou Cristo» foi uma mulher. Ironicamente, a história regista que Jesus comentou a sua unção (Marcos 14:9), com estas  palavras:
“Em verdade vos digo que, em todas as partes do mundo onde este Evangelho for pregado,  também o que ela fez será contado para a sua memória”.
É curioso que a Igreja, que acredita tradicionalmente que a mulher que ungiu Jesus era  Santa Maria Madalena, ignorou esta ordem formal. Considerando que Madalena é tratada  com condescendência a partir dos púlpitos de todo o mundo, parece que as próprias  palavras de Jesus são, como tudo o mais no Novo Testamento, submetidas a um incessante  processo de seleção. Neste caso, as palavras de Jesus são quase totalmente ignoradas. Mas,  mesmo nas raras ocasiões em que se lhe faz justiça por este episódio, há silêncio sobre as  suas implicações.
O Novo Testamento apenas refere o nome de duas pessoas que celebraram ritos importantes na vida de Jesus: João, que o batizou no princípio do seu ministério, e Maria  de Betânia, que o ungiu no fim. Mas, como vimos, estas duas pessoas foram marginalizadas  pelos evangelistas – é como se eles as tivessem incluído apenas porque o que eles fizeram  era demasiado importante para ter sido excluído. E há ainda outra razão importante: o  batismo e a unção implicam autoridade da parte de quem os celebrou. Porque, embora  aquele que batiza e o que unge confiram autoridade – quase da mesma maneira que o  arcebispo de Cantuária conferiu o estatuto real à rainha Isabel II em 1953 -, eles próprios teriam de ter autoridade para proceder assim.
Trataremos, mais tarde, a questão da autoridade de João, mas consideremos o fato curioso  de o episódio da unção ter sido incluído nos Evangelhos. Se a unção de Jesus tivesse sido  um gesto frívolo e sem significado, nunca teria sido registrado. Contudo, somos informados de que os discípulos, especialmente Judas, condenaram Maria por ter usado o  raro e dispendioso unguento de nardo, com o argumento de que podia ter sido vendido para  conseguir dinheiro para os pobres. Jesus responde que pobres sempre haverá, mas ele nem  sempre estará com eles (para ser venerado). Esta censura – além de ser um argumento  contra a ideia de que Jesus era uma espécie de proto-marxista – não só justifica a ação de Maria mas também tem a forte implicação de que, de fato, só ele e ela a compreenderam.
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Os discípulos – como habitualmente – parecem ter dificuldade de compreender os desígnios  mais sutis deste ritual altamente significativo e mostraram-se muito hostis às ações de Maria, embora o próprio Jesus se encarregasse de defender a autoridade dela. Este  acontecimento tem uma outra importância: marcou o momento em que Judas se tornou  traidor – imediatamente depois, ele vende Jesus aos sacerdotes.
Maria de Betânia tornou Jesus «Cristo» com o óleo de nardo, um unguento que, muito  provavelmente, tinha sido reservado para aquela ocasião específica e era uma unção  associada a ritos funerários. O próprio Jesus comentou a unção (Marcos 14:8): «[…] e ela  veio antecipadamente ungir o meu corpo para a sepultura.» Na sua mente, pelo menos, ela  destinava-se a ser um ritual.
É evidente que a unção comportava um significado profundo – mas qual era a sua finalidade  precisa? Dado o gênero e a reputação (embora imerecida) da pessoa que o ungiu, a cerimônia da unção não é típica da prática judaica. Talvez haja uma indicação da verdadeira natureza  da unção no «documento Montgomery».
Como vimos, este relato refere o casamento de Jesus com Maria de Betânia, que é descrita  como «uma sacerdotisa de um culto do (sagrado) feminino» – uma tradição do culto da deusa. Se for  assim, pode explicar por que a unção parecia tão estranha aos outros discípulos, embora  ainda haja o aparente problema do motivo por que Jesus foi tão tolerante com ela. E, se  Madalena fosse realmente uma sacerdotisa pagã, isso explicaria a razão por que os  discípulos a consideravam de caráter e moral duvidosos.
Se Maria de Betânia fosse realmente uma sacerdotisa pagã, por que estava ela a ungir  Jesus? E, mais importante, por que permitiu ele que ela o ungisse? E existem muitos  paralelos entre este ritual e os vulgarmente associados ao paganismo da época? De fato, há  um antigo rito que é extremamente relevante: a unção do rei sagrado. A ideia que apoia  este rito era a de que um rei ou sacerdote verdadeiros só podiam receber o seu pleno poder  divino através da autoridade de uma grande-sacerdotisa. Tradicionalmente, este rito revestia a forma do hieros gamos ou casamento sagrado: o rei – sacerdote – une-se à rainha – sacerdotisa. Era através da união sexual com ela que ele se tornava, de fato, rei confirmado. Sem ela, ele não era nada.
Não há nada na vida moderna do Ocidente que faça eco deste conceito ou prática e é difícil  que as pessoas, hoje, comecem a compreender toda a noção do hieros gamos. Fora do  mundo íntimo dos casais individuais, não temos nenhum conceito de sexualidade sagrada.  Mas não se trata apenas de sexo ou erotismo, independentemente da importância que se lhe  atribui: no casamento sagrado, o homem e a mulher transformam-se, de fato, no canal para os deuses.  É a grande-sacerdotisa que se transforma na própria deusa, que confere, então, a bênção  final da regeneração – como na alquimia – ao homem, que encarna o deus. A sua união deveria infundir neles, e no mundo em seu redor, um bálsamo regenerador e repetir, de  fato, o impulso criativo do nascimento do planeta.
O hieros gamos era a expressão última do que é designado por prostituição do Templo,  quando um homem visitava uma sacerdotisa para receber a gnose – experimentar o divino,  por si mesmo, através do ato sexual. E significativo que a palavra original, que designava estas sacerdotisas, seja hierodula, que significa “serva sagrada” a palavra «prostituta»,  com todos os juízos morais que implica, foi uma tradução vitoriana posterior. Além disso, a esta  serva do Templo, ao contrário da prostituta secular, reconhece-se o controle da situação e  do homem que a visita, e ambos recebem benefícios em termos de poderes físicos,  espirituais e mágicos. O corpo da sacerdotisa transformara-se, de um modo quase  inimaginável para os atuais amantes ocidentais, numa porta de acesso aos deuses.
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É evidente que nada podia estar mais longe mesmo da atitude da Igreja moderna, face ao  sexo e às mulheres, porque não só a chamada prostituição do Templo conferia iluminação  espiritual – um processo conhecido como horasis – mas sem «conhecimento» carnal da  hierodule um homem permanecia espiritualmente não realizado. Por si, tinha pouca  esperança de contato extático com os deuses, mas as mulheres não tinham necessidade de  tal cerimônia: para estes pagãos, as mulheres estavam naturalmente em contato com o (poder criador) divino.
É possível que a «unção» realizada em Jesus fosse simbólica do ato sexual. Mas, embora  não seja necessário pensar nestes termos para compreender a solenidade do ritual, há  inevitáveis associações com os antigos ritos em que a sacerdotisa, que representava a deusa,  era fisicamente preparada para receber o homem que fora escolhido para simbolizar o rei  sagrado ou deus salvador. Todas as escolas de mistério de Osíris, Tamuz, Dionísio, Átis,  etc. incluíam um rito – desempenhado pelos seus substitutos humanos – em que o deus era  ungido pela deusa antes da sua morte verdadeira ou simbólica, que voltaria a tornar a terra  fértil. Tradicionalmente, era três dias depois dessa morte que, graças à intervenção mágica  da sacerdotisa/deusa, ele ressuscitava e a nação podia soltar um suspiro de alívio até ao ano seguinte. (Nos autos  de mistérios, a deusa diz: «Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram» – virtualmente as mesmas palavras que foram atribuídas a Maria Madalena no horto e que discutiremos, em pormenor, mais tarde).
Indicações do verdadeiro significado da unção de Jesus encontram-se no livro do Cântico  dos Cânticos (1:12) do Antigo Testamento, onde a «Amada» diz: «Quando o Rei se senta à  sua mesa, o meu perfume de nardo exala o seu aroma.» Não devemos esquecer que o  próprio Jesus associou a sua unção à sua sepultura, portanto o verso seguinte adquire outro  significado: «Um ramo de mirra é o meu amado para mim: ficará toda a noite entre os meus seios.» Há uma clara ligação entre a unção de Jesus e o Cântico dos Cânticos. Muitas autoridades  pensam que o Cântico dos Cânticos era, de fato, a liturgia do rito de um casamento sagrado, indicando as suas múltiplas semelhanças com as liturgias do antigo Egito e de outros  países do Oriente Médio. Há uma ressonância particularmente surpreendente: como afirma Margaret Starbird:
Versos, que são idênticos e paralelos aos do Cântico dos Cânticos, encontram-se no poema  litúrgico do culto da deusa egípcia ÍSIS, a irmã-noiva do mutilado… Osíris.
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Representação de ÍSIS, a grande Mãe Cósmica, o principio FEMININO divino.
A deusa/sacerdotisa une-se ao Deus/sacerdote no casamento sagrado por razões complexas.  Superficialmente, é um rito de fertilidade, para assegurar a fecundidade pessoal e nacional,  para garantir o futuro do povo e da sua terra. Mas é também através do êxtase e da  intimidade do rito sexual que a deusa/sacerdotisa confere sabedoria ao seu companheiro. A  analista jungiana Nancy Qualls-Corbett, em The Sacred Prostitute (1998), dá grande realce  à associação entre a prostituta sagrada e o Princípio Feminino, simbolizado por Sophia  (Sabedoria). Como vimos, Sophia ocorre repetidamente nas nossas investigações – ela era particularmente venerada pelos Cavaleiros Templários – e é insistentemente associada à Madalena  e a ÍSIS.
A unção de Jesus era um ritual pagão: a mulher que o celebrou – Maria de Betânia – era  uma sacerdotisa. Considerando este novo cenário, é mais do que provável que o seu papel  no círculo interno de Jesus fosse o de iniciadora sexual. Mas lembremos que tanto os  heréticos como a Igreja Católica sempre acreditaram que Maria de Betânia e Maria  Madalena eram a mesma pessoa: nesta figura de iniciadora sexual, temos finalmente a  razão necessária para a confusão do verdadeiro papel e significado de Madalena na vida de Jesus. Se ela fosse realmente uma hierodula, atuando no mundo patriarcal do judaísmo, seria inevitavelmente considerada uma prostituta moral. Mas, enquanto estivesse com  Jesus, estava protegida, embora apenas dos efeitos dessa cólera justa, como provam  claramente as suas várias trocas de palavras com Simão Pedro (como revelam os  Evangelhos gnósticos).
O Priorado de Sião, como já observamos, é devoto da deusa – sob a forma da Madona  Negra, como Maria Madalena ou a própria ÍSIS. O Priorado associa claramente Maria  Madalena com ÍSIS; esta associação é central para a sua própria raison d’être, embora, a princípio, pareça notavelmente complicado. Contudo, é evidente que eles consideram Maria  Madalena como uma sacerdotisa pagã – no mínimo, este é outro paralelo entre ela e Maria  de Betânia.
O papel de Maria Madalena como sacerdotisa pagã é reconhecido por Baigent, Leigh e  Lincoln (autores do livro The Holy Blood and the Holy Grail-O Santo Graal e a Linhagem Sagrada), mas, apesar de levantar a questão, eles parecem considerar que as suas implicações  não justificam mais atenção. Por exemplo, embora defendendo que Madalena estava ligada  a um culto da deusa, eles concluem que, «anteriormente à sua relação com Jesus, Madalena  pode ter estado associada com esse culto». Depois esquecem a questão. Aqui, no  entanto, a frase crucial é «anteriormente à sua relação com Jesus», partindo do princípio de que ele a convertera e fazendo eco da ideia tradicional de que ela era uma pessoa que se modificara devido à sua relação com ele. Mas esta ideia pode parecer um tanto ingênua –  embora contestá-la seja evocar um cenário alternativo e profundamente inquietante.
Qualls-Corbett também cita a ligação entre a Prostituta Sagrada, Sophia e a Madona Negra,  associando, assim, os elos que descrevemos na Primeira Parte. Esta personificação  multifacetada do Princípio Feminino lança uma luz sobre o grande, e ciosamente guardado,  segredo erótico da tradição ocultista ocidental. Porque Sophia é a Prostituta, que é também  a «Bem-Amada» do casamento sagrado, e que é Maria Madalena, a Madona Negra e ÍSIS. A sexualidade sagrada implícita na Grande Obra dos alquimistas é uma continuação direta  desta antiga tradição, em que o rito sexual confere iluminação espiritual e transformação  física. E depois desta experiência suprema com a deusa/sacerdotisa que o deus/sacerdote  fica tão mudado que já não é reconhecível e «ressuscita» para uma nova vida.
É significativo, como Nancy Qualls-Corbett e outros comentadores recentes observam, que o retrato de Maria Madalena nos Evangelhos gnósticos seja o de iluminatrix e de  iluminadora – Maria Lúcifer, a que traz luz -, a que confere iluminação através da  sexualidade sagrada. Aliando esta observação às nossas conclusões sobre Maria de Betânia,  parece que ela e Maria Madalena eram, na verdade, a mesma mulher.
Este cenário também reforça a ideia de que Maria Madalena era a esposa de Jesus, embora redefina  essencialmente aquela palavra. Ela é sua companheira num casamento sagrado, que não era  necessariamente um casamento de amor. É interessante, como vimos, que o Cântico dos  Cânticos seja a liturgia de um casamento sagrado – e este tem sido sempre associado a  Maria Madalena.
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A sexualidade sagrada – anátema para a Igreja de Roma – encontra expressão no conceito de  casamento sagrado e «prostituição sagrada» nos antigos sistemas orientais do taoísmo e do  tantrismo e na alquimia. Como escreve Marvin H. Pope, no seu exaustivo trabalho sobre o Cântico dos Cânticos (1977):
Os hinos tântricos à deusa constituem um dos mais excitantes paralelos com o Cântico dos  Cânticos.
E Peter Redgrove, em The Black Goddess (1989), ao discutir as artes sexuais do tantrismo,  explica:
“É interessante comparar isto com as práticas sexuais religiosas do Oriente Médio e com a  imagem que delas herdamos. Mari-Ishtar, a Grande Prostituta, ungia o seu consorte Tamuz  (com o qual Jesus foi identificado) e, assim, tornava-o um Cristo. Era uma preparação para  a sua descida ao mundo dos mortos, do qual regressaria por ordem dela. Ela, ou a sua  sacerdotisa, era chamada de a Grande Prostituta porque este era um rito sexual de horasis, de  orgasmo integral que introduziria o consorte no contínuo do conhecimento visionário. Era  um rito de passagem, do qual ele regressaria transformado. Do mesmo modo, Jesus disse  que Maria Madalena o ungiu para a sepultura. Apenas as mulheres podiam celebrar estes  ritos em nome da deusa, e é a razão por que nenhum homem visitou o seu túmulo, apenas  Maria Madalena e as suas companheiras. Um importante símbolo de Madalena na arte  cristã era o vaso do óleo sagrado – o sinal exterior do batismo interior vivido pelo taoísta…”
Há mais alguma coisa que é de grande importância neste vaso do óleo com que Madalena  ungiu Jesus. Como vimos, segundo os Evangelhos, era de nardo – um óleo  excepcionalmente caro. O seu preço era muito elevado porque tinha de ser importado da Índia, terra da antiga arte sexual do tantrismo. E, na antiga tradição tântrica, diferentes  perfumes e óleos eram destinados a áreas específicas do corpo: o nardo destinava-se ao  cabelo e aos pés…
Na Epopéia de Gilgamesh dirigiam-se estas palavras aos reis sacrificiais: «A prostituta que te ungiu com óleo aromático chora por ti agora», enquanto uma frase semelhante era usada nos mistérios do rei-que-morre, Tamuz, cujo culto era preponderante em Jerusalém, no tempo de Jesus. E é significativo que os «sete demônios» que, alegadamente, Jesus expulsou de Madalena passam a ser os sete  espíritos Maskim, sumero-acadianos, que dominavam as sete esferas e que tinham nascido  da deusa Mari.
Na tradição do casamento sagrado, era a noiva do rei sacrificial – a grande-sacerdotisa – que  escolhia o momento da sua morte, que o acompanhava à sepultura e cuja magia o fazia  regressar do mundo dos mortos para uma nova vida. Na maioria dos casos, evidentemente,  esta «ressurreição» é puramente simbólica, refletida na nova vida da Primavera – ou, no  caso de Osíris, na inundação anual do vale do Nilo, que renovava a fertilidade da terra.
Assim, podemos compreender o significado da unção de Maria Madalena – como um  anúncio de que chegara o momento do sacrifício de Jesus e como uma escolha ritual do rei sagrado, em virtude da sua autoridade de sacerdotisa. Que este papel seja diametralmente  oposto ao que, tradicionalmente, a Igreja Católica lhe tem atribuído já não deve constituir  surpresa.
Na nossa opinião, a Igreja Católica nunca quis que os seus membros conhecessem a  verdadeira relação entre Jesus e Maria Madalena (ou o PODER FEMININO), que é o motivo porque os Evangelhos  gnósticos não foram incluídos no Novo Testamento e por que a maioria dos cristãos nem sabem que eles existem. O Concílio de Niceia, quando rejeitou os vários Evangelhos  gnósticos e decidiu incluir apenas Mateus, Marcos, Lucas e João no Novo Testamento, não  tinha nenhum mandado divino para proceder a este importante ato de censura. Agiram em  auto-defesa porque, naquela época – o século IV -, o poder de Madalena (O feminino sagrado) e dos seus adeptos  estava já demasiado generalizado para que o patriarcado o enfrentasse com êxito.
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Segundo aquele material censurado, que foi deliberadamente rejeitado para impedir que  fosse conhecido o verdadeiro quadro, Jesus concedeu a Madalena o título de «Apóstola dos  Apóstolos» e o de «A Mulher Que Conhece Tudo», e afirmou que ela se ergueria acima de  todos os outros discípulos e governaria o Reino da Luz, que estava prestes a chegar. Como  vimos, também lhe chamou Maria Iliminatrix – «Maria, a Portadora de Luz» -, e afirmava-se que ele ressuscitara Lázaro simplesmente por amor dela, não havendo nada que não fizesse  por ela, nada que lhe pudesse recusar. O Evangelho gnóstico de Filipe descreve que os  outros apóstolos antipatizavam com ela e que Pedro, em particular, procurava discutir a sua posição junto de Jesus – perguntando-lhe mesmo, muito engenhosamente, numa ocasião,  por que motivo ele a preferia a todos os outros discípulos e estava sempre a beijá-la na boca! No Evangelho gnóstico de Maria,
Página 277 Madalena afirma que Pedro a odiava e a «toda a raça das mulheres»; e, no Evangelho de  Tomás, Pedro diz: «Que Maria nos abandone, porque as mulheres não são dignas de viver»  – um prenúncio da sinistra batalha entre a Igreja de Roma, (pretensamente) fundada por Pedro, e o  movimento secreto herético, que pertencia a Maria. (E elucidativo lembrar que tudo  começou por um confronto pessoal entre dois indivíduos (entre o masculino e o feminino) – um dos quais era a consorte de  Jesus.)
Curiosamente, o Evangelho gnóstico de Filipe (que descreve, especificamente, Madalena  como a companheira sexual de Jesus), está repleto de alusões a uniões entre homens e  mulheres, entre noiva e noivo. A iluminação última é simbolizada pelos frutos da união do  noivo e da noiva: aqui, Jesus é o noivo, a sua noiva é Sophia – o fruto da sua união é a vinda  da gnose. (De modo curioso, mesmo nos Evangelhos canônicos, Jesus refere-se a si  mesmo, com frequência, como o «Noivo»). O Evangelho de Filipe também associa claramente Maria Madalena a Sophia.
O Evangelho gnóstico enumera cinco ritos iniciatórios ou sacramentos: batismo, crisma  (unção), eucaristia, redenção – e, o maior de todos, a câmara nupcial:
O crisma é superior ao batismo… e Cristo é (assim) chamado devido ao crisma… Aquele  que é ungido possui a Totalidade. Possui a ressurreição, a luz, a cruz, o Espírito Santo. O  Pai concedeu-lhe tudo isto na câmara nupcial.
Se o rito do sacramento do crisma era superior ao batismo, isso implica que a autoridade  de Maria era, de fato, superior à de João Batista. E o que é mais significativo, no entanto,  é que o Evangelho de Filipe torna claro que todos os gnósticos que aderiam àquele sistema,  não apenas Jesus, se tornavam «cristos» pela sua unção. E o maior sacramento era o da  «câmara nupcial» – que nunca é explicado e permanece um mistério para os historiadores.  No entanto, à luz desta investigação, podemos ter fortes razões para supor que as palavras  deste trecho, certamente, contêm uma indicação quanto à verdadeira natureza da relação entre Jesus e Maria. Como vimos, esta era conhecida, nos Evangelhos gnósticos, como «a  mulher que conhece o Todo». E o Evangelho de Filipe afirma sem reservas: «Vejam como  é grande o poder da relação sem mácula.”
A escritura gnóstica do século II., conhecida como Pistis Sophia, expõe o que se supõe  serem as doutrinas de Jesus, doze anos após a ressurreição. Neste texto, Madalena é descrita no papel arquetípico de catequista, interrogando-o para deduzir a sua sabedoria – tal  como Shakti (Shakti significa o poder de uma deusa, na religião e mitologia indianos. Significa também a esposa de um deus. Assim, Párvati é a shákti de Shiva, Lákshmi a de Vishnu e Sarasvati a de Brahma) ou a deusa oriental (hindu) interrogando ritualmente o seu divino consorte. É notável  que, em Pistis Sophia, Jesus usa para Maria o mesmo termo que era usado para aquelas deusas – «Bem Amada». Estas são também as  palavras que um parceiro dirige ao outro num casamento sagrado.
A intimidade de Jesus e Maria contém outra profunda implicação. Uma comparação da sua  relação com a de Jesus e os seus discípulos deixa poucas dúvidas quanto a ela ser coparticipante nas suas idéias, pensamentos e segredos. Os discípulos são, muitas vezes,  descritos como sendo bastante obscuros. Repetidamente, eles «não compreendem o que ele  diz» – uma qualidade pouco inspiradora nos homens que viriam, aparentemente, a fundar a Igreja do seu líder. Na verdade, os atos dos apóstolos referem o fogo divino do Pentecostes, que conferiu alguma sabedoria e poder aos discípulos, mas os Evangelhos  gnósticos falam de um(a) discípulo que não tinha necessidade dessa intervenção divina.  
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Representação de Lakshmi, deusa da fortuna e da abundância, a sagrada deusa consorte de Vishnu.
Segundo o material censurado, foi Maria Madalena que, depois da crucificação, reagrupou  os abatidos discípulos e, apenas pela força das suas palavras vibrantes, encorajou-os a defender a causa que eles estavam mais do que dispostos a abandonar. Certamente que ela  vira Jesus ressuscitado com os seus próprios olhos, mas, mais uma vez, ficamos com a  curiosa sensação da falta de motivação, de fé e de coragem dos discípulos, em comparação  com as dela.
Seria possível que os doze não fossem, de fato, o círculo interno dos adeptos de Jesus,  mas, no máximo, apenas os mais leais dos seus discípulos não iniciados? Por exemplo,  embora a morte e a ressurreição de Jesus fossem a quinta-essência da razão de toda a sua  missão, estes homens não esperavam que ela acontecesse: «Não conheciam a escritura  segundo a qual ele tinha de ressuscitar dos mortos.”
Foi Maria Madalena e as suas companheiras que se dirigiram ao túmulo. Talvez as palavras  da primeira ao «hortelão» – na verdade, Jesus ressuscitado – sobre o seu Senhor «ter sido  levado e ela não sabia onde o tinham posto» pudessem significar que ela, tal como os  homens, desconhecia o que se passava. Mas há razões fortes para considerar as suas  palavras no contexto de ela ser participante dos mistérios internos, talvez uma sacerdotisa. Maria Madalena, com toda a probabilidade, era a consorte de Jesus e a primeira dos  apóstolos, e parece provável que o seu papel incluísse outro significado ritual mais pagão e  mais antigo.
Os homens não deviam visitar o túmulo de Jesus, porque não era o gênero de atos que os  homens praticavam nesses tempos. Mas, a julgar pelos relatos gnósticos da aturdida apatia  dos discípulos, depois da crucificação, o simples costume não era explicação para a sua  ausência. Na tradição dos mistérios, apenas as sacerdotisas proclamavam o clímax do  sacrifício do rei – a sua miraculosa ressurreição.
Mesmo que se aceitem as aparentes semelhanças entre a unção, a morte e a ressurreição de  Jesus e as tradições pagãs predominantes no seu tempo, a questão permanece: por que se  teria um pregador judeu envolvido neste cenário? Porque, embora Maria Madalena pareça  ter participado nalgum culto, que envolvia prostitutas sagradas, e a sua influência sobre o  consorte fosse indubitavelmente grande, que possível razão podia ter tido Jesus para voltar as costas a séculos de arreigada tradição judaica? Como podia Jesus, exatamente ele, ter participado num rito pagão?
Esta mesma pergunta confronta-nos com uma possibilidade até então inimaginável. Como  vimos, a realidade, que diz respeito a Jesus e à sua missão, pode ser muito diferente daquela que é ensinada pela Igreja romana. Mesmo pôr de parte a descrença e considerar «e se» como sendo a  hipótese verdadeira é criar um cenário completamente novo. E se Jesus fosse parceiro num  casamento sagrado e, portanto, participante voluntário em ritos sexuais pagãos do culto ao poder feminino; e se Maria  Madalena fosse realmente uma grande-sacerdotisa de um culto da deusa e, no mínimo,  espiritualmente igual a Jesus, e se Pedro e os outros apóstolos não fizessem, de fato, parte  do círculo interno do movimento de Jesus? Há uma outra pergunta a acrescentar,  considerando – mesmo por hipótese – este novo enquadramento tão radical: que gênero de  homem estava realmente no centro? Quem era o verdadeiro Jesus Cristo?
Continua …
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